Vila Bacaba se situa em Moju, mas, por estratégia geográfica, é atendida pelo escritório local da Emater de Goianésia do Pará. Antes produtores de leite com baixa produtividade e explorando ilegalmente madeira, transformaram-se em referência na produção de frutas tropicais.
25/05/2020 17h38 - Atualizada em 10/11/2024 01h36 Por Aline Miranda
A história da comunidade Vila Bacaba, na zona vicinal da rodovia PA-150, no nordeste paraense, poderia ser contada em meros números: antes pequenos pecuaristas sem acesso a tecnologias e reféns de um mercado regional instável para o leite, complementavam o sustento com exploração ilegal de madeira.
Hoje em dia, acompanhados regularmente pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) e com a própria patrulha mecanizada, conquistada via uma emenda parlamentar em 2014, pelo menos oito famílias se destacam na produção de frutas tropicais: por semana, são mais de uma tonelada de mamão (papaya e havaí) e mais de 800 kg de banana (da-terra e missouri). Também se plantam açaí, cacau, cupuaçu (cupu carimbó) melancia, milho-verde e feijão verde e se criam pequenos animais: galinha caipira e porcos. A pecuária permanece, para fins de subsistência, com leite e queijo.
A Comunidade se situa no território de Moju, mas é atendida pela Emater de Goianésia porque a distância para a sede do município vizinho é quase três vezes menor. Em alguns anos de atendimento direto e ininterrupto e com a articulação da Associação da Vila Bacaba dos Micro e Pequenos Produtores Rurais (AVBMPR), a renda dos agricultores aumentou em cerca de 60% e novos mercados se tornaram viáveis, como o da merenda escolar.
A história da Vila Bacaba também pode ser contada sob uma perspectiva de edificação humana e sucessos tanto pessoais, quanto institucionais: passo a passo, pouco a pouco, a equipe do escritório local da Emater em Goianésia, comandada pelo engenheiro agrônomo José Luís Lopes, apoiou e orientou a efetivação de políticas públicas, como crédito rural, e a transformação dos sistemas de produção, com o norte da diversificação das atividades e da recuperação ambiental. Na atualidade, tem-se um total de 25 hectares só de frutíferas e toda a área de floresta renascendo, sob a inserção pontuada de espécies como andiroba e jatobá.
“Ainda é forte na nossa memória o momento em que sentamos pela primeira vez na mesa, junto com os agricultores pioneiros, os quais já não queriam se bastar em pecuária e precisavam abandonar a retirada desordenada de madeira, e desenhamos o plano do primeiro lote de cultivo, especificando técnicas, como espaçamento. Eles confiaram no Governo do Estado - e isso é muito emocionante, porque o cotidiano da Emater é a construção de uma relação de confiança e troca de conhecimentos. Provamos que é a agricultura familiar é fundamental e vantajosa, é uma função lucrativa e um baluarte da sociedade. Conseguimos alcançar alta produtividade mesmo em espaços reduzidos, em propriedades micro e pequenas”, exclama Lopes.
Eram agricultores sem experiência com frutíferas e donos de propriedades com desmatamento considerável, por causa da extração de toras e da necessidade de formação de pastagens para o gado. Agora desfrutam outra realidade: vendem para supermercados do município e na Feira do Produtor Rural, todo sábado, além de exportarem para o município de Tailândia. A Feira continua mesmo na pandemia do novo coronavírus, porém com restrições de circulação e medidas excepcionais de higienização e distanciamento social.
Um dos marcos na história da Vila Bacaba foi o recebimento da patrulha mecanizada: trator de 110 cv e implementos. O que antes era tudo roçado na mão foi facilitado pelas máquinas. Em uma escala de disponibilidade, a patrulha é alugada, em esquema solidário, a outras comunidades próximas.
“Tudo mudou com a Emater. A vida mudou para muito melhor. Vivemos com dignidade, somos gestores de um empreendimento, não mais nos consideramos à margem. Fazemos parte do agronegócio. Ser agricultor familiar, para nós, é um orgulho, nossa tradição”, enuncia Adinaldo Oliveira, 46. Junto com a esposa Elvira, 44, os dois filhos e as duas noras, Oliveira trabalha sobre cinco hectares.
“Mamão, banana, cacau. Vamos começar a colher os primeiros cachos de açaí em julho, de mil pés plantados. Este ano plantaremos mais duas mil e 400 mudas. Continuamos com 60 cabeças de gado, produzindo leite e queijo para nosso consumo e comercialização do excedente”, enumera.