Quinze agricultores da Associação Tapajós Orgânicos fornecerão mais de 30 toneladas de 13 produtos para os 5 mil e 800 alunos de creche, pré-escola e ensino fundamental da rede pública
16/09/2020 13h01 - Atualizada em 15/11/2024 01h07 Por Aline Miranda
A partir de outubro, cerca 100 crianças indígenas da etnia Borari, de Alter-do-Chão, distrito balneário de Santarém, oeste do Pará, começarão a receber kits de merenda escolar com artigos orgânicos, como farinha e pupunha. Crianças quilombolas também serão contempladas.
A nutrição valorativa e regionalizada dos cinco mil e oitocentos alunos de 0 a cinco anos dos 37 estabelecimentos de creche, pré-escola e nível fundamental da rede pública do município é uma conquista da Associação dos Produtores Orgânicos do Tapajós (Tapajós Orgânicos), com o apoio do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), entre outras entidades.
A ideia é que, durante a suspensão das aulas presenciais por conta da pandemia do novo coronavírus, as famílias continuem amparadas, a partir de logística especial de distribuição dos ingredientes para lanches e refeições.
O contrato do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), via edital da Prefeitura, é o primeiro na história do Pará direcionado com exclusividade para a agricultura orgânica. Em relação a chamadas públicas convencionais, a negociação de agora representa, para os agricultores, um faturamento 30% maior, sob o entendimento das peculiaridades dos sistemas produtivos e da qualidade de cada alimento.
“Transformamos as necessidades de todos os envolvidos em uma asserção homogênea e realista. De maneira paulatina e progressiva, estamos criando e experimentando estratégias de raiz e base para que não só a cadeia produtiva de orgânicos se profissionalize e se consolide, mas que os consumidores finais conheçam a importância e consigam se aproximar com facilidade”, explica Ana Cláudia Siviero, engenheira agrônoma do escritório local da Emater.
A perspectiva é reforçada pela coordenadora da Divisão de Atendimento ao Educando (DAE) da Secretaria Municipal de Educação (Semed), Vanda Maia.“O Edital é pioneiro. Podemos dizer que o objetivo é ir muito adiante do que é previsto pelo FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] como mínimo de aquisição da agricultura familiar”, esclarece.
Modelo Participativo
Em caráter preliminar, 15 famílias fornecerão, pelo período de um ano, mais de 30 toneladas de 13 produtos cultivados e beneficiados sem nada de agrotóxicos e fertilizantes químicos, com conformidade à legislação do setor, a um valor total por volta de R$ 200 mil.
“É o resultado da somatória de esforços de vários órgãos e entidades os quais, de modo direto e indireto, cooperam para existência e o encadeamento da produção orgânica em Santarém. Todos ganham: os recursos movimentarão a socioeconomia, os agricultores se sentirão mais estimulados e agregarão renda significativa e as milhares de crianças terão oportunidade de mais saúde”, resume a socióloga do escritório local da Emater, Nívea Araújo.
Desde julho de 2019, Nívea e os colegas Adenauer Beling, engenheiro ambiental; Ana Cláudia Siviero, engenheira agrônoma, e Djelma Tanaka, pedagogo, vêm se engajando no âmbito do Colegiado Tapajós- Mercados Verdes, o qual congrega o poder governamental e a sociedade civil.
O grupo é braço operacional da Comissão Temática da Produção Orgânica do Baixo Amazonas (CTPORG-BAM), vinculada ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural e Sustentável (CMDRS) e à Câmara Técnica de Comercialização, Agroecologia, Produção Orgânica e da Sociobiodiversidade (CTCAPOS), no contexto do Conselho Estadual de Desenvolvimento Sustentável (CEDRS).
Em janeiro e fevereiro deste ano, a equipe local de Orgânicos da Emater e a Associação elaboraram juntas uma proposta de oferta específica de orgânicos, adequada à demanda da Prefeitura.
A Associação é declarada como Organização de Controle Social (OCS) para “agricultura orgânica” pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Todos os 20 associados são inscritos no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO).
Para Cristiane Corrêa, representante da Emater na CTCAPOS e coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) de Comercialização, a iniciativa de Santarém é um exemplo que pode ser seguido por todos os municípios do Pará: “Relaciona-se a mobilização e organização coletiva. Prestigiar os orgânicos como política pública é uma vertente de desenvolvimento sustentável e segurança alimentar”, concorda. Mercados
Para Cristiane Corrêa, representante da Emater na CTCAPOS e coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) de Comercialização, a iniciativa de Santarém é um exemplo que pode ser seguido por todos os municípios do Pará: “Relaciona-se a mobilização e organização coletiva. Prestigiar os orgânicos como política pública é uma vertente de desenvolvimento sustentável e segurança alimentar”, concorda.
Mercados
De acordo com o presidente da Associação Tapajós Orgânicos, José Cunha, a inserção de gêneros orgânicos em uma chamada exclusiva engrandece o segmento, a que ele se refere como “comida de verdade, que nutre o corpo, sem contaminação”.
“Para nós, é uma satisfação sem tamanho. Vamos fornecer alimentos diferenciados com garantia de mercado, com preço justo. É um incentivo muito grande. O difícil não é produzir, é comercializar”, comenta.
Ele diz que a venda pelo PNAE absorverá pelo menos 30% da produção anual. O objetivo é, em 2021, ampliar o percentual.
Além de merenda escolar, os produtores já entregam em domicílio, em contato por aplicativo de conversa e redes sociais.
O maior escoamento, porém, é a Feira de Orgânicos, evento semanal promovido pela Emater há oito anos: a princípio, em modalidade itinerante; em 2017, virou instalação fixa no estacionamento da sede da Emater, toda quarta-feira, de 6h às 10h, com entrada livre e gratuita.
“Aconteceu uma interrupção por causa da pandemia, mas já retomamos o evento. É um canal muito interessante como divulgação e geração de renda”, encoraja o engenheiro ambiental da Emater Adenauer Beling.
Segundo Beling, a Emater vem trabalhando para que, em breve, a Associação seja classificada pelo Mapa como Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC), ampliando seu estatus e capacidade.
Serviço: