Dissertação de Mestrado da pedagoga Zélia Marques, do escritório local da São João da Ponta, coletou dados sobre 4 famílias de Curuçá, Inhangapi, São Francisco do Pará e Terra Alta
alerta: as fotos são de antes da pandemia
06/07/2020 23h17 - Atualizada em 18/11/2024 02h21 Por Aline Miranda
Uma pesquisa realizada em quatro municípios do nordeste paraense sobre o papel da mulher no meio rural no contexto de atendimento pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) foi apresentada, no último 30 de junho, como dissertação de mestrado da extensionista Zélia Vanusa Marques, pedagoga do escritório local de São João da Ponta.
Os resultados preliminares do estudo já haviam sido compartilhados em caráter nacional, em novembro do ano passado, em uma roda de conversa (“Mulheres, Feminismos e Agroecologia”) do XI Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), realizado no campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS), na capital Aracaju.
Perspectiva Científica
Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural e Gestão de Empreendimentos Agroalimentares do Instituto Federal (PPGDRGEA), do Núcleo de Estudos em Educação e Agroecologia na Amazônia (NEA) do Instituto Federal do Pará (IFPA), o trabalho “Diferentes Mulheres nas Práticas Assistência Técnica e Extensão Rural: Reflexões sobre a Equidade de Gênero”, orientado pelo Doutor em Agronomia Romier Souza, registra a história de assistência regular da Emater a quatro famílias agricultoras nos municípios de Curuçá, Inhangapi, São Francisco do Pará e Terra Alta.
Atendidas pela Emater há cerca de 3 a 12 anos, as famílias são consideradas experiências exitosas no que tange ao fortalecimento da autoestima das mulheres no arranjo doméstico e sobretudo como trabalhadoras rurais, empreendedoras e gestoras das propriedades.
“São trajetórias diversas que se coadunam quando reconhecemos, em comum a todas, mulheres que assumem posições de liderança, que exercem poder de decisão. Comprovamos que foram apoiadas diretamente pelas equipes locais da Emater nesse processo de conquista, por meio de inúmeras abordagens e incentivos, que se galgaram não em confronto com o meio, com a comunidade, mas em sensibilização e integração”, resume Marques.
“É importante ressaltar”, completa, “que o fato de não se bater de frente, de se contextualizar no entendimento das tradições patriarcalistas, de se utilizar diálogo civilizatório, facilita a comunicação e a conscientização”.
Um dos exemplos foi uma agricultora que passou a gerenciar a contabilidade das comercialização das vendas nas feiras quando o extensionista explicou como usar uma calculadora. Outro movimento importante foi propriedades passarem a ser documentadas como de dupla titularidade: não mais somente no nome do homem; também no da mulher. Mais: jovens já evadidos da sucessão familiar que retornaram às propriedades para ser agricultores e resgatar jóias culturais de suas ancestrais, como receitas de iguarias, cuja produção se tornou fonte de renda.
As práticas transformadoras da Emater se delinearam a partir da aplicação de ferramentas consagradas no universo extensionista, como “chuva de ideias” (dinâmica de grupo para despertar manifestação e criatividade, na mira de objetivos pré-definidos) e “mapa falado” (desenho representativo do espaço ou do território em questão, para percepção e debate de aspectos relacionados).
Transformação
Os dados coletados indicam que, pouco a pouco e ponto a ponto, a imersão respeitosa dos profissionais da Emater na vivência das famílias do campo permite que mulheres se identifiquem como "protagonistas" e sejam ouvidas e valorizadas, com acesso a capacitações, renda própria e adesão a organizações sociais, como cooperativas e sindicatos.
A Pesquisa gerou, inclusive, um caderno metodológico intitulado “Sistematização de Experiências de Assistência Técnica e Extensão Rural - com Enfoque de Gênero”, o qual se encontra em análise pelo Núcleo de Metodologia e Comunicação (NMC) para ser incorporado à base normativa da Emater.
“O Caderno contém uma síntese dos aportes teóricos e metodológicos que referenciam a construção de uma ferramenta didática: estruturação, ordenamento, roteirização. São dicas de fontes e de perguntas para se estimular e embasar”, aponta a pesquisadora.