Com o apoio da Emater, as comunidades de Cuxiú, quilombolas, e da Trans-Estiva, agricultores tradicionais, fornecem mais de uma tonelada de alimentos por mês.
Crédito das Fotos: Luciana Oliveira
29/06/2020 13h41 - Atualizada em 17/11/2024 10h00 Por Aline Miranda
Durante a pandemia do novo coronavírus, quilombolas da comunidade do Cuxiú, em Bonito, nordeste paraense, estão fornecendo produtos do campo para compor kits de merenda entregues diretamente nas casas dos alunos da rede pública municipal (seis escolas de nível fundamental e a creche Nilma Assad).
O processo se dá por meio do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) e das Secretarias Municipal de Agricultura (Semagri) e Municipal de Educação (Semed), no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
“O Pnae é um giro considerável na economia, na cultura, na sociedade. Os agricultores alimentam os filhos deles mesmos, estudantes das escolas e da creche, e recebem bem por isso. Eles sabem que os produtos são naturais, de qualidade e do costume. É uma ação de conscientização, segurança alimentar e geração de trabalho e renda”, diz o chefe do escritório local da Emater, o técnico em agropecuária José Gilmar Costa.
Segundo Costa, o cardápio regular na creche e nas escolas e as cestas básicas especiais enquanto durar a pandemia são montados com respeito à sazonalidade dos produtos, à programação das safras e aos hábitos alimentares da tradição do município: “É tudo uma conversa entre Emater, Secretarias e as organizações sociais dos agricultores. Chegamos a um consenso vantajoso para todos”, resume.
Cuxiú e Trans-Estiva
Pelo segundo ano consecutivo, a Associação Quilombola do Cuxiú (ACQC) participa do PNAE com o apoio da Emater. No mesmo contrato com a Prefeitura inclui-se a comunidade vizinha, de agricultores tradicionais, Trans-Estiva, representada pela Associação dos Agricultores Rurais da Trans-Estiva e Cuxiú (Aartec).
No total, são 36 famílias fornecendo, por mês, mais de uma tonelada e 200 quilos de alimentos como abóbora, acerola, açaí, banana, farinha d’água, goma de tapioca, limão, melancia e polpa congelada de frutas. O faturamento é, em média, entre R$ 9 mil e R$ 14 mil, com margem de lucro, para os agricultores, de 30% a 40%.
“O mercado da merenda escolar mudou nossas perspectivas. É um incentivo muito grande. Supera a questão objetiva da oportunidade de comercialização. Significa além: garantia de venda, garantia de preço justo, valorização da agricultura, ânimo para expandirmos nosso plantio já que não ficaremos desamparados”, aponta o agricultor Lucas Carvalho, 22, do Sítio Carvalho, onde vive com os pais, Benedito Carvalho, 52, e Terezinha Maria Carvalho, 57.
Na propriedade de 37 hectares na comunidade Trans-Estiva, a família planta açaí, feijão, mandioca, maracujá e milho. Eles mantêm, ainda, uma pequena agroindústria, que produz mensalmente 400 kg de polpa de frutas por mês, a partir da produção própria e da compra da produção de sete famílias da vizinhança, da comunidade parceira Cuxiú e de outras duas: Alto Acaputeua e Jari.
De acordo com Lucas, que ocupa o cargo de Secretário da Aartec, a participação no mercado de merenda escolar foi mais um encorajamento para a construção de uma agroindústria comunitária de beneficiamento de frutas, para produção de polpa, com capacidade mensal de mais de três toneladas por mês. A inauguração está prevista para até o meio do ano de 2021.
“Se tudo ocorrer como estamos planejando, concluímos até julho do ano que vem, com registro da Adepara [Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará] e no Sim [sistema de inspeção municipal]”, destaca.