Pacote tecnológico adaptado pela Emater multiplica cultivo de pirarucu pelo Pará

Terceira unidade de experimentação de tanques em lona da Emater será instalada em novembro, em Portel, no Marajó.

A iniciativa modelo, em Benevides, já foi estendida para os municípios de Maracanã e Terra Alta.


foto de capa: Veloso Jr.


08/10/2020 13h47 - Atualizada em 17/11/2024 14h18
Por Aline Miranda

Nos últimos 15 anos, tecnologias ajudaram a resgatar o pirarucu da lista de espécies de extinção referida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

A ameaça pela pesca predatória do peixe, que é conhecida como “o bacalhau da Amazônia”, pouco a pouco vem sendo amenizada pela viabilidade do cultivo em cativeiro.

Um dos projetos com mais resultados comprovados é no Pará: a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater) instalará, até novembro, em Portel, no Marajó, a terceira unidade de replicação da criação em tanque em lona, suspenso.

Também inauguradas este ano e baseadas em uma iniciativa modelo do escritório local de Benevides, na Região Metropolitana de Belém (RMB), as primeiras já funcionam no nordeste paraense, nos municípios de Maracanã e Terra Alta.

O trabalho mais intensivo da Emater data de 2008, na região do Araguaia, sul do Pará. Ao longo dos tempos, o pacote tecnológico tem sido adaptado às circunstâncias e vocações de cada ambiente, sempre visando ao acesso e interesse do agricultor beneficiário.


Portel

Uma equipe com membros do Escritório Regional do Marajó e dos escritórios locais de Portel e Benevides realizou, na terça-feira (6), a primeira visita técnica à extinta madeireira Rooli, às margens do Rio Pacajá, propriedade da Família Oliveira, capitaneada pelo patriarca, Benedito (de apelido “BR”).

Com os serviços de exploração florestal desativados no correr da década de 2010, a área, de cerca de 200 hectares, receberá pelo menos 20 tanques com pirarucus, estruturas de 6m de diâmetro e 28 m³ de profundidade, em consórcio com plantio de açaí da variedade BRS Pai D’égua.

“A Emater não só ajudará a retomar a função social da propriedade: elaboramos o CAR [cadastro ambiental rural], mobilizaremos a comunidade. A ideia é mostrar o exemplo e democratizar a oportunidade”, declara o supervisor regional da Emater no Marajó, o sociólogo Alcir Borges.

A estimativa é que cada tanque alcance uma produção anual de uma tonelada e 800 quilos e que a água, enriquecida com nutrientes naturais do trato com os peixes, seja continuamente aproveitada na fertirrigação do açaí.

“Um total de 36 toneladas por ano. Uma vez que existe possibilidade de expansão, dado o perfil dos agricultores e o potencial da propriedade, o objetivo é chegarmos a 50 tanques. Há condições e há estrutura”, aponta Victor Tiago Catuxo, engenheiro de pesca da Emater responsável pelos projetos, especialista em Gestão Ambiental. 

De acordo com Catuxo, a atividade é considerada sustentável: “O impacto no ecossistema é mínimo. Não exige escavação, nem movimentação de terra, e, por conta do uso da água na irrigação, acaba necessária apenas a outorga de captação”, explica.

Além disso, o consórcio é possível com diversas outras atividades, como irrigação de hortaliças e irrigação de pasto para pecuária.

O desafio, entretanto, ainda é o risco financeiro, haja vista que o capital inicial, de milhares de reais, torna-se desprotegido ante maus planejamento e execução. Atualmente, todos os escritórios da Emater, nos 144 municípios da jurisdição, estão preparados para concretizar demandas, a partir de apoio interligado com outros pólos do Órgão.

“O que reforçamos, sempre, é a imprescindibilidade de profissionais capacitados, com formação e experiência, porque será isso que determinará o sucesso científico e, por consequência, o lucro do empreendimento. Resumindo: não se brinca com o dinheiro do agricultor”, alerta o extensionista. 

Por meio da Emater, ademais, as famílias interessadas conseguem solicitar crédito rural do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO), Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).