PA e RS participam de intercâmbio virtual sobre leite

13/05/2020 21h05 - Atualizada em 19/11/2024 15h13
Por Aline Miranda

Neste delicado momento da pandemia provocada pelo novo coronavírus, quando distanciamento social e isolamento são obrigatórios para a contenção do avanço da doença, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater-Pará) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS) contornam os quilômetros que separam uma ponta a outra do país e protagonizam uma parceria pioneira de Educação a Distância (EAD) para atualização em pecuária leiteira. 

A iniciar este mês, o Curso de Dieta para Vacas Leiteiras, com destaque para a apresentação da ferramenta eletrônica Boviter Leite, desenvolvida pela Emater/ RS para gerenciamento de rebanho com precisão de cálculos para a dieta e controle de nutrição das vacas em lactação, é o primeiro intercâmbio dentro do programa Conexão Ater - Brasil, uma iniciativa da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer). 

 

Foto: Ascom / Emater RS

A aula inaugural será na próxima segunda-feira (18), às 9h, via skype e sob o suporte de uma plataforma de compartilhamento de material didático, como apostilas e vídeos. 

Durante duas semanas, especialistas da Emater do Rio Grande do Sul, por meio do Centro de Formação de Agricultores de Teutônia (Certa) daquele Órgão, ministrarão aulas virtuais para 60 profissionais da Emater lotados nas diversas regiões do Pará onde a agricultura familiar depende socioeconomicamente da produção de leite ou onde há potencial para a expansão da atividade: Capanema, Conceição do Araguaia, Ilhas de Belém, São Miguel do Guamá e Tapajós. 

No primeiro módulo, serão seis aulas online (de uma hora e meia a duas horas de duração), ao vivo, com interação entre instrutores e alunos, sobre tópicos como fisiologia digestiva e variáveis de exigências nutricionais.  

Depois da pandemia, será executado o segundo módulo, presencial (oito horas de duração), com visita in loco a propriedades nas quais os alunos já estarão aplicando os conteúdos. O módulo presencial considerará estudo de caso, mineralização e sanidade, entre outros temas. Com o curso, o Boviter Leite se tornará disponível gratuitamente para os técnicos da Emater-Pará participantes. 

De acordo com o engenheiro agrícola e especialista em pecuária leiteira Diego dos Santos, um dos quatro instrutores do curso, “com a Boviter, existe um salto de observação técnico-científica. É um ambiente de fácil utilização, inclusive para os produtores, com planilhas que permitem a automação de cálculos complexos para a dieta ideal, com o cruzamentos das inúmeras variáveis, como peso dos animais e média de produção de leite. Com a coleta de dados e a inserção na planilha de controle do rebanho, usada como gestão de rebanho e análise geral, organizamos e elaboramos os lotes de produção, para calcular a dieta de uma melhor maneira. É um acompanhamento rigoroso que não acreditamos ser possível se fazer no papel, pela compreensão do cotidiano típico do agricultor familiar”, analisa. 


Foto: Ascom / Emater RSA 

Criada em 2012, a Boviter Leite aumentou a produtividade da pecuária leiteira das propriedades beneficiárias em até 293%, em um período de cinco anos, conforme estudo preliminar da Emater/RS. “Ressaltamos, porém, que essa é uma estimativa em absoluto vinculada à realidade específica do Rio Grande do Sul, o que representa um conjunto de fatores próprios. São dados sem limitação de mão-de-obra, área ou alimentação. Temos certeza de que o uso de uma ferramenta como a Boviter na realidade do Pará, obviamente um uso adaptado às circunstâncias do estado, será uma agregação importantíssima, porém sob metas diferentes da nossa experiência original, no Rio Grande do Sul”, adverte.

Na atualidade, o Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores de leite do Brasil, com um dos maiores índices de produtividade, conforme pesquisa de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Para a presidente da Emater-Pará, Cleide Amorim, “é um passo único. Estamos usando a tecnologia a nossa favor, driblando os empecilhos geográficos, para proporcionar capacitação de alto nível sem grandes custos. Imaginemos , por exemplo, o quão árdua seria a logística de deslocar e reunir equipes de municípios como Bannach e Brejo Grande do Araguaia. Selecionamos 60 extensionistas de diferentes formações técnicas e acadêmicas, sob o critério de vasta experiência com bovinocultura leiteira a partir da Emater. Essa primeira turma atuará como multiplicadora entre os colegas e os produtores”, enuncia.



Modernidade
O Conexão Ater Brasil objetiva a troca de práticas e know-how, a partir da divulgação de projetos com resultados significativos. 
“Esse intercâmbio entre Pará e Rio Grande do Sul será nossa primeira experiência em modelo remoto. Representa muito não só para as duas Emateres, mas principalmente para a Asbraer, porque reforça nossa capacidade de articulação, divulgação e implemento de projetos bem-sucedidos das associadas entre si. É mais um canal de democratização e difusão”, salienta a diretora executiva da Asbraer, Mariana Matias. 

A veterinária Cláudia Bouth, do escritório local da Emater em Mãe-do-Rio, no nordeste do Pará, uma das participantes do curso, comemora “excelente expectativa”: “É uma oportunidade de acentuar conhecimento, entender diversidades e sobretudo de nos atualizar. Vejo como um momento de troca, no qual todos saem ganhando”. 

Em Mãe-do-Rio, a Emater atende de modo direto mais de 400 famílias envolvidas com pecuária mista, uma vocação do município: “Nosso desafio aqui é incentivar a produção de leite como atividade rentável, profissionalizada comercialmente. Existe uma resistência cultural, ligada à tradição da sucessão familiar. Para tanto, batalhamos em várias frentes: tecnologia, crédito rural e espelhamento de propriedades-referência, para que os produtores identifiquem o potencial e a vantagem do investimento”, aponta.

Uma dessas propriedades se localiza em Irituia, município vizinho, entretanto é atendida pelo escritório de Mãe-do-Rio, pela facilidade geográfica. Desde 2015, o agricultor José Everaldo Alves, da comunidade Monte Hebron, produz queijo, iogurte e coalhada artesanalmente, no Laticínio Ever, já com certificação da Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará).