Na pandemia, ribeirinhos de Melgaço criam galinha caipira em palafita para renda e alimento

Com o incentivo do escritório local da Emater, a avicultura suspensa em região de várzea vem se popularizando em Melgaço. A Família Silva, do sítio Projeto de Deus, na Comunidade Jerusalém, é um dos destaques de atendimento. 

04/08/2020 14h17 - Atualizada em 18/11/2024 10h12
Por Aline Miranda

Grávida do quarto filho em plena pandemia do novo coronavírus e antecipando as dificuldades inerentes ao momento de crise, a agricultora Noeme Silva, 37, da Comunidade Jerusalém, no interior de Melgaço, no Marajó, tratou de assegurar fonte de sustância para quando entrasse de resguardo. 

Em abril, junto com o marido, Josiel, 35, usou os R$ 600 reais do auxílio-emergencial, liberado pelo governo federal, para investir em uma atividade diferenciada, com o apoio do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater): a criação suspensa de galinha caipira na várzea do rio Tajapuruzinho, com aviário sobre palafita dentro do sítio Projeto de Deus. 

A ideia de garantir canja para si própria no puerpério se alongou de tal maneira que, quando Leomara nascer, agora em agosto, a família já estará no quarto lote de comercialização direta. Os principais compradores são vizinhos da região. A ave é vendida viva, com cerca de dois quilos e meio a três quilos, por R$ 30 reais cada. 


“Virou um empreendimento, um negócio, e, ainda, um meio de refeição para a gente, para o nosso consumo. Na pandemia, a vizinhança queria frango disponível a qualquer hora, não podia se deslocar e não tinha quem de perto fornecesse. Preenchemos uma lacuna de mercado e ampliamos as opções de proteína para nossa mesa”, conta Noeme, que também é mãe de Leomar, 14, Josiel Júnior, 10, e Josiely, 8. 

Com orientação e suporte da Emater, os agricultores reduziram os custos com pintos e ração, que antes precisavam importar de Breves, e conseguiram controlar e programar a engorda, bem como ajustar as medidas do confinamento. 

Hoje, a estrutura do aviário, 24m² de madeira e cobertura de palha, abriga 100 bicos de caipira e branco. O plano é até o fim do ano construir outro aviário e participar de oportunidades governamentais, como a merenda escolar. 

Além de aves, a família trabalha com criação de porcos e extrativismo de açaí. 

 

Galinha caipira em área de várzea
Tipicamente um sistema de terra firme, nos últimos meses a avicultura vem se popularizando entre as famílias ribeirinhas de Melgaço. Sem tradição ou experiência, muita gente nem cogitava a viabilidade de criar animais em cima de área alagada.

De acordo com a Emater, a proposta é barata e propicia geração de renda e segurança alimentar. Os aviários e os utensílios, como comedouros, por exemplo, podem vir de reciclagem de madeira e de tubos pvc. 



“No período de pandemia, a Emater nunca desamparou a zona rural. Para evitar que as carências piorassem, mantemos toda a amplitude da nossa assistência técnica, porque a produção de alimento nunca é interrompida e as famílias necessitam de renda constante”, afirma o chefe do escritório local da Emater em Melgaço, o engenheiro florestal Milton Costa.

Segundo Costa, iniciativas como a da Família Silva são vitrine e prova concreta de que a atividade é lucrativa e possível, “seja em que circunstância de recurso, visto que o primeiro passou foi o auxílio-emergencial, e em que tipo de propriedade, mesmo em cima da água”, ilustra.