As agricultoras vivem em sete assentamentos. O recurso será investido em criação de galinha caipira, criação de suínos e pecuária leiteira
28/09/2020 15h58 - Atualizada em 20/11/2024 16h50 Por Aline Miranda
Por meio de projetos elaborados pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), oitenta mulheres assentadas da reforma agrária de Água Azul do Norte, no sudeste do Pará, receberam, ao longo da primeira quinzena de setembro e no próprio nome, um total de R$ 400 mil de crédito, sem dependência contratual a pai, marido, filho ou a qualquer homem do arranjo familiar.
O repasse de R$ 5 mil a cada agricultora foi liberado pelo Banco do Brasil (BB) no âmbito do Fomento Mulher, modalidade do Crédito Instalação, política pública do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O recurso está servindo para estruturar empreendimentos de criação de galinha caipira, criação de suínos e pecuária leiteira, entre outras atividades, em sete assentamentos: Arica, Brasília, Continental, Esperança Jequié, Jerônimo Nunes Lacerda e Pedro Monteiro.
Maria Françuli Batista, 38, uma das beneficiadas, é casada com Caetano Fernandes, 56, e mãe de cinco filhos: os mais velhos, Francinalva, 21, e Pedro, 20, casaram e vivem em seus domicílios com seus respectivos cônjuges; Tiago, 17, João Vitor, 13, e Davi Luiz, 5, moram com os pais no Sítio São Pedro, no assentamento Esperança.
O Sítio possui cerca de 20 hectares, onde a família cria 100 aves “caipirão” e vem iniciando bovinocultura de leite e piscicultura. O Fomento será investido principalmente na granja.
“Aqui os terrenos são pequenos e o hábito é todo mundo se ajudar. Mulher e homem participam do mesmo jeito. Não nos consideramos uma comunidade machista porque as oportunidades são demais parecidas”, diz.
Na perspectiva do atendimento da Emater, ações afirmativas de gênero fortalecem igualdade àquelas tradicionalmente subjugadas ou reféns de dinâmica na qual casam mais cedo, engravidam muitas vezes, sofrem mais violência doméstica e costumam cumprir dupla e até tripla jornada de trabalho (casa, crianças, roça).
“O dia a dia da assistência técnica e extensão rural [ater] pública visa à reparação histórica de questões sociais e culturais com impacto econômico e ambiental. As assentadas contempladas já usufruem de espaço diferenciado, são mão-de-obra tão importante quanto a masculina e têm protagonismo na gestão das propriedades”, situa o chefe do escritório local da Emater em Água Azul, o técnico em agropecuária César Augusto Carneiro.
Condições como baixa escolaridade, entretanto, persistem. No município, uma das principais dificuldades na execução de ações afirmativas é a falta de documentação.