35 famílias começaram a colheita em julho. O projeto da Emater de retomada do plantio comercial da leguminosa intensificou-se ano passado, com a instalação de duas unidades demonstrativas (uds)
01/10/2020 14h08 - Atualizada em 20/11/2024 08h02 Por Aline Miranda
Em Monte Alegre, oeste paraense, desde julho mandiocultores estão colhendo mais uma safra de feijão-manteiguinha, na perspectiva de diversificação de renda.
As 35 famílias de 20 comunidades participam de um projeto do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) de retomada do plantio comercial da variedade, uma tradição quilombola de dois séculos que vinha perdendo espaço por falta de incentivos governamentais.
Com o abandono paulatino da oferta do produto, a demanda na região se intensificou ao ponto de a comercialização direta já representar lucro de 40%, margem superior à negociação de subprodutos da mandioca.
O feijão-manteiguinha é um feijão típico do Baixo Amazonas: com pouco caldo, costuma ser consumido em mistura com proteínas animais, como charque, ou como ingrediente de receitas de salada e de baião.
Volta por Cima
O principal estímulo para a renovação de interesse por parte da agricultura familiar foi difusão tecnológica: durante seis anos, amostras nativas do município foram melhoradas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e tratadas no Centro de Treinamento Agroecológico, Inovação Tecnológica e Pesquisa Aplicada do Nordeste Paraense (UDB) da Emater, em Bragança, nordeste paraense.
As sementes especiais compõem duas unidades demonstrativas (uds) instaladas em 2019 pela Emater em Monte Alegre: uma em área de várzea; outra, em terra firme. As estruturas servem de vitrines para cada vez mais produtores se interessarem pela atividade.
Troca-Troca
A colheita das uds é distribuída de acordo com a sazonalidade e sob sistema de troca-troca: os produtores recebem da Emater, plantam em cerca de meio hectare, colhem e devolvem 10%, para a Emater contemplar novos produtores.
Os 35 de agora são o segundo contingente beneficiado. Outras 15 famílias devem receber as sementes, em abril de 2021, para plantio em maio.
“O plantio de manteiguinha na verdade nunca parou por completo, porém, nos últimos tempos, as pessoas estavam se limitando à intenção de subsistência, sobretudo porque o manejo é muito trabalhoso e não se visualizava grande vantagem econômica. Com sementes melhoras e um mercado mais do que absorvente, estamos nos removimentando”, explica o técnico em agropecuária do escritório local da Emater Francisco Carlos Lima (conhecido como “Pirrique”), também graduado em Gestão Pública.
Exemplo
Sonira Maria Ferreira, 55, é proprietária do Sítio Ramos, na Vila Bacabalzinho. Ela e o filho Ruan Pimentel, 29, colheram mais de 80 quilos:
“Usamos como alimento e o excedente um tanto devolvemos para a Emater, um tanto armazenamos para o plantio do ano que vem e o excedente vendemos tudo em Santarém, a um preço bom”, conta.
Para ela, o feijão-manteiguinha é uma opção de aumentar o orçamento:
“É tudo uma questão de adaptação. O que a gente colhe a gente consegue vender. Mas o manteiguinha tem suas pecualiaridades, e precisamos nos acostumar: a colheita tem que ser feita antes do sol forte, porque a planta resseca muito, fica frágil e pode haver perdas”, considera.
O diferencial é a assistência da Emater: “Parceira, sempre presente, eu digo que é mais do que um governo: a gente desenvolve uma amizade”, conclui.