Sete famílias do assentamento Lajedo II participaram da primeira Demonstração Técnica, realizada nos dias 20 e 21 de agosto.
foto de capa: Acervo Pessoal
04/09/2020 17h32 - Atualizada em 19/11/2024 20h24 Por Aline Miranda
Seja em que tempo for, não falta açaí na mesa da Família Cavalcante-Timóteo, moradora do assentamento Lajedo II, em Marabá, sudeste do estado.
Entretanto, o que Ronildo, 40, e Claudineide, 35, colhem nos cerca de dois hectares de área nativa da propriedade, no entorno de uma nascente que desemboca no rio Vermelho, por ora só é suficiente para o consumo do casal e dos três filhos: Kaíque, 15; Jonas, 11, e Guilherme, 2.
“Mesmo na safra, não ultrapassamos os 50 litros por mês”, calcula Ronildo, que é presidente da Associação dos Pequenos e Médios Produtores Rurais do Lajedo II (APMPRAL), da qual fazem parte 50 associados.
O Sítio Santa Luzia é uma das bases de um projeto piloto de manejo do açaí executado pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) na Comunidade, no km 8 da rodovia BR-155.
O objetivo é que, com capacitação e acompanhamento, estratégias como espaçamento adequado, seleção de espécies para exclusão e desbaste de touceiras resultem, já ano que vem, em aumento significativo de produtividade.
“Ano a ano, a expectativa é que tripliquemos ou mais os números atuais”, estima o chefe do escritório local da Emater em Marabá, o engenheiro florestal Antônio Marçal.
De acordo com Marçal, o manejo é uma tecnologia bastante acessível para o agricultor familiar do sudeste do Pará: “Os epis [equipamentos de proteção individuais], como facão e luvas, são típicos da dinâmica das propriedades; as informações integram difusão científica e conhecimento popular e o impacto no ecossistema é mínimo”, explica.
Teoria e Prática
Nos últimos dias 20 e 21 de agosto, a Emater promoveu a primeira Demonstração Técnica para sete agricultores, sob todas as recomendações de cuidados com a covid-19, como uso de máscaras e distanciamento.
Foram treinadas etapas como elaboração de inventário florestal, com processamento de dados em ficha de campo preenchida manualmente, e identificação e retirada de árvores madeireiras que sobrecarregam de sombreamento o açaí, fazendo com que a palmeira desenvolva-se sem controle e alcance altura inviável para o extrativismo.
Conforme logística no contexto da pandemia do novo coronavírus, a Emater está se organizando para estender a capacitação inicial para as outras famílias do assentamento. São mais de 100 extrativistas, que também trabalham com plantio de açaí da variedade BRS-Pará, pecuária leiteira e plantio e beneficiamento de mandioca.
O açaí é vendido, batido ou in natura, para comerciantes de pontos de bandeira vermelha da região.
Com a expansão e o melhoramento dos sistemas produtivos, deflagram-se possibilidades de mercado muito além da vizinhança. Próximas fases serão, por exemplo, introdução de novas variedades de açaí na terra firme, como a BRS- Chumbinho, e implantação de sistemas de irrigação.
“É um ganho real para a agricultura. Aumentando a produção e qualificando o produto, temos chance de empreender com lucro e sustentabilidade. O manejo já é uma realidade”, considera Ronildo.