objetivo é contribuir para a sustentabilidade da cadeia produtiva no Marajó
28/11/2024 12h41 - Atualizada em 06/12/2024 04h22 Por Aline Miranda
O escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) em Afuá, no Marajó, está participando de um movimento multiinstitucional de investigação conduzido pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) sobre a escassez do camarão-amazônico (Macrobrachium amazonicum) no estuário do rio Amazonas.
Reuniões ao longo de novembro com diversas representações, a exemplo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), são mais uma etapa dos esforços conjuntos que consideram, inclusive, marcos de futuro imediato, como a regulamentação de um período de defeso e assinatura de acordos de cooperação técnica.
De acordo com os especialistas da Emater, o fenômeno de diminuição significativa da quantidade e do tamanho da espécie nos fluxos que entrecortam e banham Afuá vem sendo observado desde 2021 e já causa prejuízos à socioeconomia das ilhas do município, haja vista o produto abastecer restaurantes de veraneio e o turismo nas praias.
Ano passado, a Emater promoveu o I Fórum de Pesca e Aquicultura de Afuá e a partir de então vem coletando dados empíricos de uma amostra de 12 famílias com um cotidiano de pesca artesanal na Baía do Vieira e nos rios Aningal, Afuá e Piraiaura, dentro dos assentamentos federais Ilha Cajuúna e Charapucu.
O objetivo é contribuir para a formulação de hipóteses, que podem ter relação com mudanças climáticas, em nível planetário, e com tradições predatórias, tais quais o uso de matapis e de viveiros inadequados.
“Nosso atendimento direito e indireto, de apoio à pesca artesanal e de existência ribeirinha, permite-nos monitorar e vivenciar o impacto desses acontecimentos com o camarão. Realizamos, assim, um levantamento de campo. O que a gente entende, a priori, é que algumas ferramentas com espaçamento reduzido, minúsculo, acaba na captura dos ‘juvenis’, e isso influencia na reprodução da espécie”, indica o chefe do escritório local da Emater em Afuá, o engenheiro agrônomo Alfredo Rosas, especialista em Manejo Ambiental de Solos.
O gestor relata que o camarão-da-amazônia é produto de apelo comercial importante em Afuá, porque o consumo é constante e o aproveitamento, total: “Os médios e grandes são vendidos na hora e os pequenos são pré-cozidos. Não há perda nenhuma para o pescador”, explica, com a ressalva do problema estrutural: “Entre outras variáveis, capturar camarões 'juvenis' interfere na dinâmica reprodutiva e no estoque natural. Por isso a importância de estudos aprofundados, de envolvimento das instituições públicas e no fortalecimento de políticas públicas para o segmento, a fim de que a cadeia produtiva se mantenha sustentável em curto, médio e longo prazos”, declara.
Soluções
A pescadora Maria Doralice Batista, de 52 anos, conta a história de um sumiço repentino do camarão-da-amazônia no rio Furo Grande, às margens da Ilha Panema, onde vive com o marido, Coraci Barbosa, de 58 anos, e os dois filhos caçulas do casal: José Vicente, de 13 anos, e Caio César, de sete anos: “Nunca tinha acontecido antes. Foi sem explicação. Em 2023 desapareceu e agora, em 2024, voltou, mas menos e mais miúdo. E o pitu [Macrobrachium acanthurus] sumiu e nunca mais voltou”, relembra.
A vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR) de Afuá e membro da Colônia de Pescadores e Aquicultores Z-6 atribui a aquecimento global: “A gente não tem certeza, porém, quanto mais quente, menos camarão”, expressa.
Para a Liderança, a adaptação de ferramentas, o incentivo à criação da espécie em cativeiro e a conscientização dos pescadores sobre camarões juvenis e com ovas figuram como soluções viáveis: “É tudo uma questão de diálogo, mobilização e de divulgação, porque estamos sofrendo os danos na pele e todo mundo aqui tem assimilado que é necessário pensar estratégias para o bem das populações e da natureza”, resume.
Foto: Divulgação