Agricultores vulneráveis iniciam piscicultura com vistas ao próprio consumo
10/06/2020 18h36 - Atualizada em 14/11/2024 17h34 Por Aline Miranda
Apesar das dificuldades provocadas pela pandemia do novo coronavírus, o escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) em Cachoeira do Piriá, no nordeste paraense, está instalando a primeira unidade demonstrativa (ud) de piscicultura familiar do município.
O propósito da iniciativa, que tem o apoio da Prefeitura, é capacitar famílias de baixa renda para que criem peixe como forma de melhorar a própria alimentação e estimular associativismo e cooperativismo. São agricultores os quais, mesmo pescando artesanalmente e plantando mandioca, ainda enfrentam expressiva vulnerabilidade socioeconômica, inclusive com acesso escasso a proteína animal.
Atendida pela Emater há mais dez anos, a Comunidade Boa Esperança, no Assentamento Cidapar, próximo à divisa com o estado do Maranhão, já abriga algumas tentativas de cativeiro de peixe, com represamento em pequenos açudes. Porém, sem informações mais especializadas, como controle químico da qualidade da água e cálculo de ração, e sem observância ao ecossistema, como preservação das nascentes, nenhuma chegou a vingar.
Os problemas com a água, por exemplo, se intensificavam no período típico de estiagem, de setembro a dezembro, porque a captação e o nível de oxigenação acabavam prejudicados, o que culminava em morte ou desaceleração do desenvolvimento dos peixes.
No dia 3 de junho foi realizada a Demonstração Técnica (DT) de estréia pela Emater, ante as lideranças comunitárias, seguindo-se as medidas preventivas quanto à covid-19: uso de máscaras, distanciamento, disponibilidade de álcool-gel e individualização de canetas.
A partir daí, 10 assentados e extrativistas se envolveram em um trabalho colaborativo para construir, pelos próximos 45 dias, um tanque escavado de 600 m², na propriedade do agricultor José Francisco Marques.
A estrutura abrigará 500 tambaquis, para retirada em um ano, quando cada animal deve atingir um quilo. A lateral do tanque, de 40 m lineares, será revestida de pneus reciclados com plantio de acerola, goiaba e tomate-cereja.
A despesca e a colheitas serão direcionadas para segurança alimentar e nutricional, com comercialização do excedente.
“Não é só um processo de orientação científica, em relação aos manejos e à adequação ambiental. É também resgatar na Comunidade o espírito de solidariedade e de união de esforços em prol de um bem comum. Produzir junto tem um resultado totalmente diferente do que produzir isolado. É preciso se treinar o ambiente de ajuda mútua”, identifica o chefe do escritório local da Emater em Cacheira, o engenheiro de pesca José Jovelino Itapirema.