Com o apoio da Emater, mulheres indígenas do Baixo Amazonas protagonizam “Feminismo Amazônico”

Associação reúne mulheres de 19 a 90 anos de mais de 10 aldeias de Oriximiná

21/08/2024 12h49 - Atualizada em 19/11/2024 12h44
Por Aline Miranda

A indígena Marluce Silva, mais conhecida como Marluce Wai-Wai, de 54 anos, não se considera propriamente “feminista”, pela palavra em si: “Não é um termo que eu use. O que eu digo é que nossa luta é pelo direito das mulheres indígenas, no combate à violência contra as mulheres, que sejamos respeitadas, pela igualdade social. Isso é Feminismo? Talvez um feminismo amazônico”,comenta a presidente da Associação de Mulheres Indígenas da Região do Município de Oriximiná (Amirmo). O município em questão é paraense, no Baixo Amazonas.

O “nós” do “nossa luta” a que a liderança feminina se refere inclui mais de 700 mulheres indígenas entre 18 e 90 anos de mais de 10 aldeias de várias etnias: além do wai-wai, hyxcaricanas e xereu, entre outras. Silva vive na Aldeia-Mãe,na Terra Indígena (TI) Mapuera/Trombetas, de onde se contam até três dias de viagem em canoa e barco pelos rios Mapuera e Trombetas, quando se sai ou se vai para a sede de Oriximiná.

As associadas trabalham com manutenção e beneficiamento de mandioca, produção de farinha, produção de pimenta-em-pó e artesanato.

No arranjo familiar, o costume ali é os homens fazerem os plantios prévios de mandioca e as mulheres tomarem conta das lavouras. A pimenta-em-pó vem de gêneros como malagueta e ova-do-peixe. Sobre o artesanato, sementes de açaí e

morototó detalham desenhos de cutia e paca em tangas, biojoias e maracás.

“É um universo amplo de atividades, para subsistência, fortalecimento de tradições e geração de renda. Com apoio governamental, é possível enfrentar problemas crônicos naqueles ambientes, como desnutrição”, diz o chefe do

escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), Alexander Valente, técnico em agropecuária e biólogo.

Este ano, com foco também na Amirmo, a Emater vem planejando atendimento sob contemplação específica de gênero às comunidades indígenas, com projeção de crédito rural do Programa de Financiamento da Agricultura Familiar (Pronaf) e do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), capacitações quanto a gestão e difusão tecnológica.

Valente considera o povo indígena um público especial para o Governo do Estado: “São os povos da floresta amazônia, habitantes há muito tempo, cuidando da floresta e usando de forma sustentável, com extrativismo, artesanato com sementes, e isso tem que ser enxergado pelas instituições, porque os indígenas mantêm a floresta e têm direito a políticas públicas e a uma

vida digna, dentro da sua cultura”, declara.

Algumas das ideias de atendimento concreto são um viveiro de morototó e a orientação sobre um modelo viável de comercialização dos produtos: “A situação do morototó é que eles usam muito para fazer colar etc, só que, quando a árvore está muito carregada, eles derrubam a árvore para tirar a semente, e assim o morototó vai ficando mais longe da aldeia. Podemos produzir mudas e reflorestar, para que eles tenham melhor acesso, por exemplo”. No tocante a artesanato, estudos sobre precificação e acabamento das peças podem alavancar o mercado.

O especialista cita desafios: “Questão do idioma, na hora de nos comunicarmos, posto falarem seus idiomas nativos e Português ser segunda língua; logística, pela distância geográfica das aldeias. Mas é tudo contornável, basta o

serviço público se direcionar e se adaptar”, analisa.