A trajetória da Família Bandeira, da Comunidade Campina, é exemplo da atuação bem-sucedida da Emater
Fotos: Francisco Neves, Maurício Lima e Zélia Vanuza Marques
Observação: as fotos com as pessoas sem máscara foram capturadas antes da pandemia
30/06/2020 16h44 - Atualizada em 19/11/2024 07h58 Por Aline Miranda
Se uma política pública se efetiva por meio da história de seus beneficiários, a Família Bandeira, de São João da Ponta, nordeste do estado, tem muito o que contar: atendido pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) desde 2009, o casal Reginaldo e Joana imigrou do pólo Castanhal para o município vizinho junto com os filhos Ricardo e André e transformou a propriedade na comunidade Campina em um exemplo de diversificação de atividades e desenvolvimento sustentável.
“É a nossa morada, nosso lugar de viver, de criar nossos filhos. Aqui temos condição e apoio para produzir alimentos em quantidade e qualidade suficientes para nosso consumo e para venda, o que é nosso sustento”, diz Reginaldo.
A unidade de produção familiar (UFPA) compreende 22 hectares e meio com ênfase na fruticultura consorciada: açaí, banana, coco, cupuaçu, limão, maracujá, mamão, entre outros. Só de açaí são 800 touceiras; de maracujá, 400 plantas.
O principal da colheita é vendido em três frentes: para a Prefeitura de São João da Ponta pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), de forma direta na Feira do Produtor Rural em Castanhal e de forma indireta para as Centrais de Abastecimento do Pará (Ceasa), na capital Belém.
“A Família Bandeira é uma experiência muito exitosa da Emater em São João da Ponta. Junto com eles, abordamos práticas que aliam, ao mesmo tempo, aspectos sociais, ambientais e produtivos. O resultado se traduz em lucro para a agricultura familiar, injeção de recursos na socioeconomia da Comunidade e do Município, preservação dos recursos naturais, segurança alimentar e geração de trabalho e renda”, aponta o chefe do escritório local da Emater em São João da Ponta, o técnico agrícola Maurício Lima.
O acompanhamento realizado pela Emater se iniciou com a inserção dos Bandeira na Comunidade, por meio de reuniões e incentivo à participação nas organizações sociais, como o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR), e se encorpou ainda mais há três anos, quando a Família passou a fazer parte do Projeto Piloto, da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), uma parceria bi-institucional.
Com um aporte específico de recursos, o Projeto Piloto direciona ações com o objetivo de aumentar a capacidade produtiva e a dinâmica de comercialização.
Com as visitas técnicas, processos de mobilização e de conscientização e até a composição de um croqui da propriedade, para facilitar a visualização territorial e embasar o plano de trabalho, os agricultores passaram a valorizar a questão do gênero, como o empoderamento de Joana dentro do arranjo doméstico e dentro do contexto do empreendimento; e adotaram metodologias de gestão de negócios, bem como reduziram em cerca de 50% o uso de agrotóxicos.
“É possível observar que o Governo do Estado, via a atuação da Emater, tem contribuído na relação e mediação com os agricultores familiares; existe uma comunicação fluida e sem barreiras quanto aos interesses e necessidades das famílias e dos mercados ativos e potenciais. É muito além de trocar conhecimento sobre como plantar, criar, cuidar de solo, cuidar de água. Trata-se do exercício de direitos sociais, do papel dos jovens e das mulheres nas tomadas de decisões, no desenvolvimento das comunidades rurais e do município como um todo”, completa Lima.
A Emater também emitiu declarações de aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf (daps) para o casal e de maneira individual para os dois filhos, elaborou o cadastro ambiental rural (car) da propriedade e formulou um dossiê que subsidiou o requerimento de regularização fundiária ante o Instituto de Terras do Pará (Iterpa).
Alguns dos desafios ainda são a conclusão do processo de regularização fundiária, o acesso a crédito rural e a falta de uma Feira do Agricultor Familiar no próprio município.
“A ater [assistência técnica e extensão rural] pública, para nós, é importante demais. É um instrumento de cidadania. Um caminho de políticas públicas para saúde, educação, estradas”, resume Joana.