Agricultores de Almeirim começam a plantar hortaliças para município não depender mais de importação

ações conjuntas entre Emater e Fundação Jari capacitam comunidade, com prioridade à merenda escolar

31/03/2022 13h57 - Atualizada em 10/06/2025 19h14
Por Aline Miranda

por Aline Miranda

Em Almeirim, no Baixo Amazonas, agricultores estão sendo treinados pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), em um engajamento com a Fundação Jari, para suprir um déficit histórico do município: a produção de hortaliças. 


Segundo dados oficiais, em contrapartida a uma tradição de bubalinocultura e criação de galinha caipira voltada à subsistência, atualmente Almeirim carece de importar de pólos como Santarém até 90% de produtos típicos do dia a dia da culinária regional, como alface, cheiro-verde e cebolinha. 

A finalidade mais imediata é abastecer a merenda escolar, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). 

“As atividades que se constroem clássicas carregam a história da coletividade, e é preciso ir atualizando as necessidades também de cadeias produtivas. Hoje podemos dizer que em Almerim existe, sim, mercado efervescente para absorver a produção de hortaliças; para tanto, o esforço da Emater é romper o paradigma e estimular mão-de-obra, por meio de acesso a tecnologias, crédito rural e demais contextos de políticas públicas”, indica o chefe do escritório local da Emater, o técnico em agropecuária Elinaldo Silva. 

O gestor reforça que a parceria tanto com entidades públicas, como a Prefeitura, quanto com a iniciativa privada e o terceiro setor é um caminho inescapável para o desenvolvimento sustentável, via a assinaturas de convênios e termos de cooperação técnica: “Quando se reúnem ferramentas, a visão se prospecta e o resultado acaba muito mais efetivo”, pontua. 


Teoria e Prática

A iniciativa vem sendo fortalecida em nível pioneiro na Comunidade Goela da Morte, no Km 40 da rodovia PA - 473. 

 É onde reluz o Sítio Deus-que-me-Deu, no qual Iracema Santos, 60, conta que “vive da agricultura”: “Sou aposentada, mas aqui faço farinha, tenho as minhas frutas”, enumera. Ela dá “graças a Deus” pela oportunidade de horta familiar. “Estamos muito felizes porque as Instituições abraçaram a causa”, conclama. 

Agora em março, Iracema participou de um evento especial: o primeiro curso de Produção de Hortaliças em Sistema Protegido, organizado por Emater e Fundação Jari, com o apoio da Prefeitura, para oito agricultores avizinhados. 

Foram cinco dias de conhecimento recíproco sobre a construção de estufas que resguardem canteiros de hortaliças de eventos adversos como chuva, ventania e excesso de sol. Pela realidade climática do município, se não houver nenhuma proteção, o risco de prejuízos e perda total pode ser de 100%, indicam especialistas. 

A experiência foi ministrada pela técnica em agropecuária Taciana Miranda, do escritório local da Emater em Santarém, oeste do Pará. 

A orientação relacionou-se a um modelo de 25 metros de comprimento por seis metros de largura e cobertura de 100 m de plástico translúcido, de 120 micras, suspensa no que se chama “pé-direito”:  a dois metros e meio sobre suporte de madeira reaproveitada, como angelim e eucalipto.  Na dinâmica, o grupo iniciou um dos empreendimentos em uma propriedade específica, com o planejamento de mais três ainda este semestre em propriedades diversas.


“Cada estufa comporta quatro canteiros, em uma dimensão total de 400 m². Nesse primeiro, introduzimos folhosas, como cheiro-verde. A previsão de colheita é de 30 a 35 dias”, instrui Taciana. 

O gerente de projeto da Fundação Jari, o engenheiro agrônomo Arnaldo Santos, explica que uma qualificação mais direcionada, complementando a experiência e a intuição dos agricultores, repercute em uma expectativa muito mais exitosa: “Existem aspectos que precisam ser calculados,  tais quais posicionamento da estrutura em si, logística, proximidade com fonte de água e incidência e distribuição de raio solar”, pontua. 


Parceria

Arnaldo Santos afirma que a proposta é interação máxima e “olhar diferenciado” para a Comunidade: “ Atuamos em nível ambiental, econômico e social na região desde o ano 2000, em uma programática de rede, para ajudar a promover desenvolvimento sustentável e qualidade de vida para os moradores da nossa área ocupacional e com foco em geração de renda e educação ecológica”, considera. 

Ele relata que os próprios agricultores demandaram a iniciativa: “Nossa equipe de campo convive e se reúne diretamente com as localidades, em uma comunicação fluida”, esmiuça. Conforme estudos comparativos da Entidade, o mercados governamentais apresentam-se, assim, como uma alternativa bem vantajosa: além da merenda escolar, também o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). 

Para a Fundação Jari, diz, a junção de esforços com a Emater sobretudo “otimiza recursos e aumenta o raio de abrangência, com alcance a lugares mais distantes”. 





Fotos: Divulgação