comunidades Chico Mendes e Mari-Mari II participam da iniciativa
Fotos: Veloso Jr.
15/10/2020 15h49 - Atualizada em 22/11/2024 00h14 Por Aline Miranda
Na pandemia do covid-19, um projeto do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) em Belém, capital, vem unindo o útil ao agradável: capacitadas, agricultoras de duas comunidades do distrito de Mosqueiro fabricam sabão artesanal, para uso próprio e comercialização, a partir de óleo usado que lanchonetes e restaurantes doam, acionadas pelo Órgão.
Maria Cristina Santos
Com a devida orientação pelos extensionistas, todo o processo de armazenamento recicla garrafas, potes e vasilhas: tanto o óleo recolhido, como o sabão já pronto.
“Eu, sozinha, fiz bastante e distribuí pra muita gente. Sabão é o tipo de coisa que temos que ter às ordens o tempo inteiro e funciona em vários aspectos”, conta Maria Cristina Santos, secretária da Associação dos Pequenos Agricultores da Mari Mari (Apamm). Artesã de costura e crochê e proprietária do Repouso dos Santos, ela planta açaí, cupuaçu e hortaliças.
No cotidiano, o sabão, em forma de barra ou de pasta, serve providencialmente à higienização pessoal que ajuda a combater a transmissão do novo coronavírus, a exemplo de lavar as mãos, e ainda representa uma destinação ecológica a óleos vegetais que sobram em grandes quantidades e todo dia em cozinhas comerciais.
Quando descartado de forma inadequada no ambiente, em geral em pias ou no lixo comum, o óleo proveniente de frituras contamina a água, a atmosfera e o solo, com difícil reversão.
Produção
Consideradas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, as cerca de 20 famílias das comunidades Chico Mendes e Mari-Mari II usufruem de ganho duplo: economizam porque não precisam mais comprar o artigo fora, haja vista que é de primeira necessidade, e alcançam mais de 100% de lucro vendendo, por enquanto, para amigos, parentes e vizinhos.
Cinco litros de óleo resultam em até três quilos de sabão. O principal custo é soda cáustica. A mistura recebe essências disponíveis em cada propriedade, via folhas, frutos, raízes e sementes.
“É uma história de sucesso, sobressalente por todas as dificuldades e imposições deste momento excepcional, de risco de doença e de crise econômica. Emater e comunidades conseguiram criar uma rede, uma conexão, na qual todos os eixos são exemplo de como é possível aproveitar recursos, respeitar a lei e o ambiente e gerar trabalho e renda”, aponta Camila Salim, engenheira ambiental do escritório local da Emater em Belém.
Junto com o marido, Fabiano Rocha, Salim é dona da primeira hamburgueria, especializada em smash-burguer, a doar óleo para o Projeto. São 35 litros por mês, com entrega quinzenal.
“Reutilizamos embalagens para organizar o óleo de soja que sobra da fritura de batatas. São práticas de consumo sustentável que qualquer empreendimento pode adotar. O resultado é vantajoso não só para o cliente, para nós, mas para a coletividade”, explica o chef Fabiano.
Incentivo
O projeto da Emater de fabricação de sabão artesanal começou ano passado, com oficinas e cursos, e apoio das organizações sociais das Comunidades.
As fórmulas passam por constante aperfeiçoamento. O objetivo é um modelo o mais comercial possível, com a premissa da sustentabilidade e de economia circular.
“É uma atividade acessível para o agricultor familiar da região metropolitana. Os insumos são facilitados e a operacionalidade, segura, com luvas e máscara. O apoio da Emater é fundamental, porque intermediamos a doação garantida de óleo, ajudamos na captação de matéria-prima e supervisionamos em termos científicos”, explica a técnica social da Emater Teodora Golenhesky, responsável pela capacitação.
No sítio de Clenice do Socorro Oliveira, presidente da Associação dos Moradores e Produtores Rurais Agroextrativistas Chico Mendes (Ampracm), o sabão lava chão e lava louça. O excedente ela vende para pessoas próximas.
Clenice Oliveira
“Economizei com supermercado, porque eram uns R$ 50 todo mês só com esses produtos de limpeza, e ganho um pouquinho com a venda. Estamos melhorando a fórmula, testando novas fragrâncias, pra poder estruturar de verdade o sistema de venda”, planeja, à medida em que mostra inúmeros vasilhames de margarina repletos de sabão em pasta.
“Isto aqui, ó: a gente jogava tudo fora. Agora todo pote vazio de margarina é bem-vindo”, completa, rindo.
Serviço: estabelecimentos ou pessoas físicas que quiserem doar óleo podem entrar em contato com o escritório regional das Ilhas da Emater, jurisdição do escritório de Belém, pelo telefone (91) 3299-8707. Os interessados também podem entregar diretamente no escritório da Emater em Belém, na Travessa São Roque, número 129 (entre Primeira e Segunda Ruas), bairro Cruzeiro, Distrito de Icoaraci, de segunda a sexta, de 8h às 12h e de 14h às 18h.