Com o apoio da Emater, mulheres quilombolas de Gurupá avançam no empreendedorismo

16 moradoras do território Bacá do Ipixuna receberam seus cadastros nacionais da agricultura familiar (cafs) por emissão do escritório local

14/06/2024 09h01 - Atualizada em 06/07/2024 01h38
Por Aline Miranda

No território quilombola Bacá do Ipixuna, em Gurupá, no Marajó, a matriarca Carmem Helena, de 59 anos, e suas filhas Benedita, 40; Darlene, 28; Luciete, 30; e Lucinete, 39, em 2024 começaram a transformar o dia a dia da família Pimentel Souza em uma microempresa: o carro-chefe da marca Delícias da Vovó é um biscoito especial de castanha-do-pará, com ingredientes coletados na área de floresta do lugar de moradia, às margens do rio Ipixuna. 


Sob a orientação do escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) e parceria com a Prefeitura, a iguaria com sabor amazônico é a principal aposta do grupo para ampliação de mercado, com vistas especiais à merenda escolar.


Mulheres 


As mulheres Pimentel Souza fazem parte de um grupo de 16 outras mulheres quilombolas que esta semana receberam da Emater o cadastro nacional da agricultura familiar (caf), documento-base de reconhecimento de direitos e de acesso a políticas públicas para a agricultura familiar, inclusive contemplação de questões de gênero. A atividade de emissão de cafs consta como meta do subprojeto Apoio à Cidadania, à Educação e a à Cultura do Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Proater) 2024, na perspectiva do Plano Plurianual (PPA) do Governo do Estado. 

Com o caf, as pequenas empreendedoras passam a usufruir de acesso a benefícios como crédito rural em nome próprio. 

“Pra gente, é uma grande vitória. Ser mulher quilombola é um desafio. Não tínhamos apoio de ninguém, ninguém dava confiança. O suporte da Emater é magnífico, porque traz conhecimento tecnológico e experiência de gestão: como legalizar, como distribuir, como ter lucro. É uma mudança de visão e de situação, sempre pra melhor”, conta Benedita, a primogênita. Em união estável, ela e o companheiro trabalham também com plantio de mandioca e produção de farinha d´água, farinha de tapioca, goma de tapioca e “crueira” (amido de mandioca). 


Contexto

De acordo com diagnóstico prévio realizado pela equipe da Emater, as quilombolas beneficiadas agora têm entre 20 e 50 anos e apresentam baixa escolaridade. A maioria é casada e com filhos pequenos. Algumas são chefes-de-família. Além de agricultoras de enxada na mão, com labuta diária nas roças, elas confeccionam bolsas, com matéria-prima da vivência rural, e preparam comida à base de ingredientes regionais para vender.

“ São mulheres com força e coragem. Uma das nossas propostas é intermediar a formalização da organização social, a princípio de uma associação e, a posteriori, de uma cooperativa, o que vai facilitar sobremaneira o aspecto da comercialização.  Ainda, prospectamos a possibilidade imediata de inserção individual no crédito da linha B do Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar] e no programa Fomento Rural [cooperação com o Governo Federal]”, contextualiza o chefe do escritório local da Emater em Gurupá, Ronnaldy Aislan Reis, técnico em aquicultura e gestor ambiental. 


Texto: Aline Miranda

Foto: Divulgação